Um dia no parque da EMEI Idalina Graça, localizada na região central de Ubatuba, seria comum não fosse o olhar aguçado e a percepção da professora Flávia Pires de Souza. Ela, que atualmente leciona na etapa 1 da Educação Infantil (crianças de 4 e 5 anos), teve uma ideia a partir do comportamento que seus pequenos manifestaram ao se depararem com duas lagartas na parede, durante a hora do brincar.
A fim de proteger a vida das lagartas, Flávia começou a explicar para os alunos qual o processo de vida do animal até que ele se torne uma borboleta. Foi então que, com a ajuda de um dos funcionários da escola, que pegou um pote plástico e fez diversos furos para criar um sistema de ventilação, a professora elaborou uma espécie de “incubadora”, colocando terra, folhas da árvore de maracujá (das quais as lagartas se alimentam) – ou seja, todo o material necessário para elas sobreviverem até o momento de formar o casulo. Tudo isso foi feito para que esse processo fosse acompanhado e observado, permitindo com que os alunos criassem um vínculo com o que, no futuro, seriam duas borboletas. Todo o processo demorou cerca de 10 dias e, após a transformação, as borboletas foram soltas no parque novamente.
Segundo Flavia, as crianças se apaixonaram pelo processo, dizendo que, mesmo enquanto estavam no casulo, todos chegavam para “conversar” com as borboletas, nutrindo e desenvolvendo carinho pelo que estavam “cultivando”.
A pequena Helloisa Muniz conseguiu resumir a trajetória da transformação de uma maneira simples e pura. “Ela come tudo, daí vira borboleta”, disse. Já Cauã Cavalieri se tornou um apaixonado e, de acordo com Flávia, passa a metade do tempo do parque atrás das borboletas, tanto foi o amor que ele criou. “Eu gostei que ela fez um casulo e virou borboleta”, revelou.
Hoje, eles ainda acompanham as borboletas que estão soltas no parque e ajudam a proteger as folhas que ainda possuem ovos.
Aprender a explorar
A professora aproveitou o tema para trabalhar assuntos como poesia (As Borboletas, Vinicius de Moraes), música e contação de história ( A lagartinha comilona, de Eric Carle). “Foi muito gostoso porque não foi planejado. Foi um episódio que aconteceu e soubemos aproveitar”, comemorou.
A secretária de Educação, Pollyana Gama, comentou sobre a importância da iniciativa em contribuir para que as pessoas compreendam que a Educação Infantil está muito além dos cuidados de higiene e alimentação, pois esse é o período em que os seres humanos estabelecem o maior número de conexões cerebrais. “A atividade proposta contribui para o desenvolvimento do pensamento científico de nossas crianças por meio de uma vivência saudável e significativa, estando em consonância com as habilidades e competências e campos de experiência descritos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, concluiu.
O projeto terá continuidade e a professora já foi convidada para compartilhar dessa vivência com demais professores da Rede Municipal durante a Semana da Educação, que ocorrerá em julho de 2019.